Entrevista no Persona

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O multifacetado escritor recifense Wellington de Melo, 37 anos, vive e explora o Centro e a Zona Norte, onde mora, com a mesma paixão. No papo com a repórter Vanessa Araújo, ele fala sobre rotina, literatura, a relação com o filho autista, o gosto por jogos e pela cozinha.

JC – Você trabalha no Centro, perto do Rio Capibaribe, na casa do poeta Manuel Bandeira. Como é sua vivência com a cidade?

WELLINGTON DE MELO – Minha relação com o Recife começou muito cedo, porque eu trabalhei no Centro, no comércio, quando era adolescente. Esse pulsar dos bairros de São José, Santo Antônio e Boa Vista sempre me influenciou muito. Embora não seja notívago, gosto de flanar, explorar o Recife caminhando, conhecer as ruas, os jardins secretos, essas ilhas de tranquilidade em meio ao caos.

JC– Vivencia o bairro onde mora também?

WELLINGTON–Moro em Casa Amarela, perto do mercado, um lugar por onde eu ando muito também. É um bairro bacana porque é como se fosse uma cidade dentro de outra cidade. Gosto muito desse clima de subúrbio. Fui criado no Ibura, morei em Paulista, mas gosto muito do Recife.

JC – Professor, poeta, gestor público, escritor. Com tantas atividades, ainda sobra tempo para o lazer?

WELLINGTON – Pode soar clichê, mas quando você faz o que gosta, você transforma o que gosta em lazer. Brinco com as pessoas, dizendo que tenho cinco clones. Nesta entrevista, você está conversando com o Wellington 3, o Wellington 2 está em casa, o 1 deve estar escrevendo neste momento. Os outros dois não sei, não fui apresentado a eles ainda.

JC – E as horas que sobram são ocupadas com o quê?

WELLINGTON – Sou um nerd. Gosto de jogos de estratégia de miniatura, como o Mage knigth, que ainda guardo no meu guarda-roupa, esperando meu filho crescer para jogar comigo. Gosto de jogos de RPG, de ler poesia de autores contemporâneos brasileiros e procurar novos nomes. Adoro cozinhar e cozinho bem, deixando a modéstia no bolso da outra calça. Minhas especialidades são a paella e o penne ao pomodoro e basílico. Um dos hobbies que tenho também é assistir a reality shows de culinária.

JC – Você escreveu um livro para o seu filho, que é autista. Como é a troca de experiências com ele?

WELLINGTON – Aprendo muito com o sorriso, o abraço, a presença e o silêncio dele. Ele me ensinou a ser mais humilde, porque você faz zilhões de planos para os filhos. E, no meu caso, específico, que trabalho com comunicação, com linguagem, é quase um tapa na cara ter um filho com dificuldade de comunicação. Estou mais paciente e compreensivo e levo isso para a minha relação com todo mundo. A síntese da minha relação com ele é me ver nele e, nesse suposto abismo de silêncio, a gente poder se encontrar e conversar.

JC–Como aproveita a rotina com a família?

WELLINGTON – Procuro sempre ter um momento de qualidade com eles. No último ano, eu vim ressignificando
isso, elegendo prioridades. Mesmo que seja um pequeno espaço que tenho, tento aproveitar o tempo que tenho com Aleph, do meu primeiro casamento, e Guilherme, que tem agora três meses, do meu atual casamento. A gente vive um momento de muita velocidade e a família fica no meio disso tudo. Aprendi a me focar mais nos problemas de Aleph também.

JC–Que projetos está tocando no momento?

WELLINGTON – Estou muito empolgado com esse projeto do livro Cartonero. A experiência de fazer esse livro para Aleph, cada um manualmente, acaba sendo uma maneira de você se encontrar com outras realidades. Estou empenhado também na publicação do meu primeiro romance. Do ponto de vista pessoal, um projeto que tenho para os próximos anos é voltar a morar numa casa. Sou uma pessoa mais do chão mesmo. É um sonho mais distante, mas não tem muito prazo para ser cumprido.

Publicado na seção Persona, do Caderno Arrecifes, Jornal do Commercio, 18 de agosto 2013.

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