Às vezes, para avançar você só precisa de uma boa página. Uma cena fica submersa até que se revela e, com ela, aspectos desconhecidos do texto.  Aqui, traço um caminho oposto ao da postagem anterior, em que falei sobre a escrita de histórias de fundo. 

Assim como é preciso sempre lançar um convite à próxima página para o leitor, você também precisa desse empurrão para seguir escrevendo, para descobrir o que vem depois. Este romance é o que mais testou meu limite entre planejar e escrever instintivamente.

Eu tenho uma barreira, que chamo de quebra-mar. É o limite das trinta páginas. Normalmente, consigo escrever instintivamente até a quebra-mar, quando meu espírito (zombeteiro) planejador me pede para parar. Invejo quem consegue fazer o primeiro rascunho sem remorso nem roer unhas. 

De qualquer forma, posso dizer que rompi a nova quebra-mar dessa versão. As lacunas surgem, e decidi usar notas para lembrar o que fazer depois, sem imobilizar a escrita com anotações e esquemas. Uma ou outra vez, precisei mudar uma cena, porque o que se revelou naquela boa página mudou os rumos iniciais.

O romance avança por caminhos estranhos agora. Inexplorados. E eu gosto que seja assim. Mas preciso revelar uma coisa: um dia, precisei sair sem computador nem caderno. Me senti nu numa padaria querendo escrever durante uma hora que tinha de espera. Peguei um papel usado e nesse tempo fiz um esboço das cenas que escrevi instintivamente (a quebra-mar é só uma linha no horizonte, agora) e visualizei para onde queria ir. Esse caminho já mudou, mas não senti necessidade de mudar. Uma página de cada vez. Uma boa página de cada vez, até o fim.

P.S.: A boa página a que se refere esta postagem saiu primeiro da minha Lettera 82, foi reescrita no Ommwriter e editada no Google Docs. 

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1 Comentário
  • Pingback:Protagonista - Wellington de Melo | escritor
    Postado às 10:33h, 27 agosto Responder

    […] a motivação de uma protagonista, não conseguia passar pela quebra-mar (já falei sobre isso em outro post). Foi quando olhei pro lado e vi Cláudia: era ela quem devia contar a história, ela daria conta, […]

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