O ódio sempre será nossa pátria?

Num futuro próximo, Cláudia volta a um país que a odeia para cumprir uma promessa e desfazer uma injustiça. Mas o tempo sempre cobra seu preço e voltar para casa pode não ser a melhor escolha. Adquira seu exemplar de Emilio e acompanhe as novidades sobre o livro neste hotsite exclusivo.

LEITURAS

Caetano Vilela
Caetano Vilela@caetano.vilela
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"Emilio" é aquele tipo de romance que seduz e engana o leitor a cada capítulo; e isto é ótimo. Há um rigor na linguagem e no estilo de Wellington de Melo que exige do leitor uma curiosidade infinita sobre os rumos dos personagens. Ali nada é por acaso: as referências assumidas, e escamoteadas, passam pela "Ilíada", "Odisseia", Shakespeare, rock, ficção científica e o que mais o leitor “pescar”; também são arquetípicos os nomes de alguns personagens e nada, absolutamente nada, em toda a narrativa, soa pedante ou deslocado.
Ricardo Postal
Ricardo Postal@ricapostal
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Díllan Vieira de Melo
Díllan Vieira de Melo@dillanvm
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Emilio é na verdade sobre Cláudia, e por isso também é sobre Marcela, logo Emilio é sobre Plínio, e sobre Plínio, e sobre Vânia e Lourdes, sobre Fátima, sobre Heitor, e sobre Emilio também. Emilio é sobre aqueles que não puderam escolher seus papéis no drama da vida tal qual seus duplos, ou não, desfavorecidos por sua posição social, marginalizados com evidência pela cor de sua pele, postos uns contra os outros, enquanto os verdadeiros inimigos, ou rivais, se acovardam atrás de seus portões de ferro em torres de vidro decoradas com estátuas falsas.
Geórgia Alves
Geórgia Alves
@georgia.alves1
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O romance de Wellington de Melo é o livro mais Realista no sentido estético que li nos últimos tempos. É acelerado e polifônico como a realidade. Um cabo de guerra entre meu desejo de abraçar e curar todos os males e o medo de ser arrastada por seus conflitos invisíveis.
Brenda Martoni
Brenda Martoni
@b.martoni
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O romance Emílio escrito por Wellington Melo é sem dúvida uma obra que deve ser lida por aqueles que gostam de uma trama bem elaborada, com temáticas atuais e abordagens reflexivas. Quase 400 páginas de uma leitura fluida, que prende o leitor querendo sempre ler o próximo capítulo.
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DIÁRIO DE ESCRITA

Bastidores do romance

Durante a escrita do romance, escrevi alguns artigos como parte do projeto de incentivo do Funcultura para aproximar os leitores de meu processo criativo. Aqui, poderá conferir o resultado e deixar suas impressões sobre os bastidores da escrita de um romance. Vamos lá?

EASTER EGGS

Os segredos de Emilio

Meus romances têm sempre referências escondias, que não são essenciais para a compreensão dos livros, mas fazem parte um jogo com os leitores e leitoras. Nesta seção, você pode descobrir algumas dessas referências. Mas recomendo que leia apenas depois de terminar o romance, já que contém spoilers.

Lúcia Siracusa e o 13 de dezembro

A Lúcia de Siracusa, padroeira dos cegos, de Emilio é uma referência a Santa Luzia, cujo martírio é muito semelhante ao narrado no livro. O dia de Santa Luzia também é 13 de dezembro, data em que acontece o massacre na escola onde Marcela estudava. No romance, a data passa a ser celebrada pelos extremistas como uma data nacional. Neste dia, em 1968, instituiu-se no Brasil o AI-5.

A porta do quarto de Jorge

No apartamento de Clarissa, Cláudia descreve a fechadura do quarto de Jorge: "Me chamou a atenção a fechadura, preta e branca, em formato de losango" (p. 96). Trata-se de uma referência ao clipe da canção "Seven nation army", cuja letra fala sobre sair de sua cidade após fofocas e do desejo de voltar. Qualquer semelhança com a história de Cláudia não é mera coincidência. A canção também é sutilmente citada quando sabemos que "o país foi fatiado por sete nações" (p. 50). "Seven nation army" é, para mim, uma canção sobre vingança. Em certa medida, é o que Cláudia tem em mente, em algum momento da narrativa.

Um bolero falso, como todos os boleros

No começo do romance, Cláudia faz referência a ouvir um bolero "cheio de reverb e tristeza", que mais tarde saberemos ser a canção Time, da banda Pozo-Seco Singers. Ao final do romance, quando ela sai do Recreio Bonanza, escuta por uma rádio pirata, um bolero cubano, "cheio de metais solares, mas melancólicos". Em versões anteriores do livro, era incluído um trecho da canção que Cláudia ouve, mas que foi removido. Trata-se de "No toques este disco", de Bienvenido Granda. Na canção, um homem pede que tirem um disco que toca na vitrola, porque lhe traz lembranças sofridas. O fato de Cláudia ouvir um bolero cubano na rádio pirata também é uma pista sobre que países ocupam o outro lado da fronteira do que foi seu país.

Os significados do nome "Emilio"

O nome Emilio vem do latim Aemilius, que significa "rival" ou "o que fala bem". Considerando que o carismático ideólogo extremista é o suposto antagonista de Cláudia, a escolha mostra uma pista onomástica. Mas, para além disso, o nome é uma referência à obra Emilio, ou da educação, de Jean-Jacques Rousseau. Escrita em 1762, traz ideias iluministas sobre a formação do indivíduo puro que é corrompido pela sociedade. É uma chave para pensar o papel do personagem no livro, mesmo que a teoria do "bom selvagem" seja posta à prova neste romance a cada momento. 

Firestarter: mais que um carro

O Ford Firestarter é um símbolo ambivalente no romance. É num carro deste modelo, que não existe ainda no mundo real, que Clarissa e Cláudia vão, na juventude, ao bairro da protagonista, numa cena tensa. Se é num Firestarter que Cláudia aprende a dirigir, é num deles que ela é atacada por fanáticos seguidores de Emilio Garza. Eu quis que o carro tivesse uma personalidade, uma aura, e acabasse se tornando um motivo e, de alguma maneira, um duplo de Cláudia. Ele é seu Rocinante. Ele é envolto pela tragédia (lembremos o episódio da m0rte da versão ficcional da cantora Taylor Pie), mas se fosse um modelo real, sua palavra seria ousadia. O Firestarter exerce um fascínio em Cláudia. No meio do caminho para a Praia Azul, um animal lhe dá um susto, mas o carro se livra. Apesar disso, neste momento, ela pede para acionar o modo manual. Claro que há também um simbolismo nesta decisão da personagem, o que se nota pelo que virá a seguir. Além da ida à quebrada de Cláudia, a guerra de gangues com Firestarters blindados também são episódios que reforçam o aspecto belicoso do Firestarter, que em certa medida se confunde com a personalidade da própria protagonista. A referência é à canção da banda Prodigy, "Firestarter", ou seja, um causador de problemas. Como Cláudia. Mas ela ironiza essa visão de uma força bruta que soluciona tudo, que o carro pode evocar. Lembremos da versão que ela dá de um final escrito por Alexandre num filme a la Hollywood. A força de Cláudia não é a do Firestarter, mas uma sutil força baseada na observação e no conhecimento.