Wellington de Melo enfrenta a máquina

Matéria publicada no Jornal do Commercio em 16 de novembro de 2008

Por Fellipe Fernandes

Especial para o JC

A relação entre a máquina e o homem é tratada no livro Desvirtual provisório (editora Canal 6), do poeta multimídia Wellington de Melo, como elemento propulsor da criação. Nos poemas que fazem o livro, não encontramos uma declaração de guerra à máquina, ou uma negação da mesma. Ao contrário dessa postura, muitas vezes defendidas por autores que acreditam num resgate profundo das raízes culturais, Wellington – que se considera fruto de uma nova geração, que vai além do caos, do rio e da lama – utiliza a máquina e tenta chegar ao centro dela para assim se expressar. “Eu queria com o livro colocar uma bomba no meio da máquina: a poesia”, explica o autor.

Mas a máquina da qual se fala não é aquela máquina antiga, que se enferruja, como a máquina contra a qual o modernismo lutou. A máquina que o poeta vê como sua opressora, e por isso mesmo fomentadora de sua criação, é a máquina que não se pode desligar como a internet, escrita com letra maiúscula e arroba (@) e necessária para a realização de sua poesia. Desvirtual provisório, segundo livro do autor, é dividido em cinco partes – a proto-M@quina, a M@quina, a anti-M@aquina, a hiper-M@quina, e o pó – e deu origem ainda a um poema-instalação, que, de acordo com as palavras do poeta, é “a reverberação semiótica do livro”. Os poemas exploram a espacialidade da folha do papel, começam metalingüísticos, falando da própria criação, passam pela dialética do homem com a máquina, até chegarem naquilo que parece restar de todo esse processo.

O autor acredita que seu livro é representativo da renovação pela qual passa a cena literária pernambucana, que começa a assumir um novo olhar sobre o local e o global. Ainda que não haja filiação direta, é inegável que há traços do tropicalismo na poesia de Wellington. Essa herança se materializa, principalmente, na forma como o autor encara a pós-modernidade – não com cetecismo e radicalismo, mas como uma relação antropofágica. Afinal, é do embate com a máquina que ele acredita crescer como poeta e assim vencer a mesma. “O homem devora a máquina, que devora o homem”, explica. Por isso, apesar de terminar com o pó, o livro passa longe do pessimismo e revela a noção de alguém que se vê no meio de uma engrenagem, aceita sua condição, mas não desiste de continuar adiante, pois, como afirma o poeta: “não importa a tecnologia, na máquina vai sempre haver humanidade”. Ainda que não haja vencedores.

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