Natal é uma época estranha porque parece que todos pressupõem que as pessoas precisam ser melhores ou pelo menos fingir isso. Um exemplo dessa forçada de barra é a tal da caixinha.

Esse buraco negro econômico pode ser encontrado nos mais diversos lugares, principalmente nos balcões de lojas de bairro, lanchonetes, estacionamentos (pagos), padarias, farmácias. Mas há lugares mais inusitados, como guaritas de edifícios, elevadores e nas mãos dos garotos que pedem já o ano inteiro na rua. Um dos lugares mais inusitados que já vi, no entanto, fica perto de minha casa. Existe uma passarela que cruza uma das principais avenidas no Pina. A utilidade dessa passarela ainda não ficou clara para mim, pois o trânsito não melhorou em nada, mas isso é outra história. O que acontece é que minha mulher essa semana, passando pela passarela, viu uma danada de uma caixinha de Natal. Clássica como qualquer caixinha de Natal: uma caixa de desodorante ou coisa parecida embalada com o mais brega papel de presente que o cidadão dono da caixinha encontrou. Mas, voltemos à dita cuja: estava lá, na passarela, devidamente vigiada pelos seguranças mal encarados que passam o ano todo ignorando as pessoas que atravessam a passarela ou mandando os pivetes que querem brincar na escada rolante voltarem pro seu covil. Pois bem, esses seguranças-simpatias agora colocaram uma caixinha pros transeuntes. Minha mulher disse que o cara tinha aquele olhar de ‘não-vai-colocar-nada-na-caixinha-não?’ Pressão total, e ainda em cima de alguém que não tem qualquer bom serviço para ser reconhecido [única justificativa, aliás, para você contribuir com a caixinha].

Pior é que essa cara de pidão se repete onde tiver essa caixinha. Ai do filisteu que não colocar nada na caixinha e voltar pra trocar.

– Bom dia.

– Bom dia [deve ter sussurrado pra colega antes de dar bom dia: Esse é aquele miserável que não colocou nada na caixinha!]

– É uma troca.

– Certo… [Você espera quinze minutos até que ela atenda a outra cliente, que não deve cair na besteira de não deixar nada na caixinha. Depois disso, ela volta.]

– É troca, né? [com aquela carinha bem simpática ou no máximo com um sorriso amarelo] Eita, nem tem mais esse modelo [há duas caixas cheias no estoque, mas você, que não deu nada pra o Deus Caixinha, nunca saberá. Ouve-se aquela risada medonha de vilão de desenho animado].

– Tá, ok. Gorda a caixinha esse ano?

– E então!

3 Comentários
  • Pedro Castilho
    Postado às 12:09h, 30 dezembro Responder

    A religião do caixinhismo seria um negócio mais lucrativo que a Renascer Em Cristo

    Professor, o senhor estaria interessado em uma proposta de negócios?

    • Wellington de Melo
      Postado às 18:07h, 30 dezembro

      Eheehehe… Já viu a promoção “Natal desvirtual?”

  • Matheus
    Postado às 20:22h, 29 dezembro Responder

    Isso é um problema. A___A

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