essa fúria não é nada se você me quer dócil essa fúria não é nada para passar o fim de semana high essa fúria não é nada para desejar feliz ano novo aos bêbados na praia lotada boa viagem copacabana guarujá essa fúria não é nada para as montadoras de esqueletos essa fúria não é nada para uma palavra na garganta sufocada essa fúria não é nada para as corporações de flibusteiros essa fúria não é nada essa fúria não é dada é instigada por minha fúria é minha fúria ceifada pelo café vespertino é minha fúria igual à fúria igual à fúria que me presenteiam no top 10 da mtv é minha fúria higienizada no jornal do brasil é minha fúria prét-à-porter para levar para as baladinhas cabeça é minha fúria esfregada na cara dos alternativos classe média dos porraloucas classe a é minha fúria-legalize-já é minha fúria-maconha-de-grife é minha fúria-glamour-bossa-nova minha fúria não é nada é só minha fúria

Post scriptum 15/01/10

Esse poema é um dos que foram mais mexidos em O peso do medo. Acho um texto importante para o livro, mas não sei até que ponto fiquei satisfeito com o resultado final. Eis a versão ‘abandonada’:

essa fúria não é nada domar o desejo do abismo essa fúria não é nada passar o fim de semana high essa fúria não é nada desejar feliz ano novo aos bêbados na praia essa fúria não é nada palavra na garganta sufocada essa fúria não é nada as colônias de bajuladores esquartejadas essa fúria não é nada as pernas dos meninos de semáforo amputadas essa fúria bronca pesada essa fúria jornal nacional essa fúria top 10 fúria sulanca-caruaru fúria brechó-cabeça fúria cocaína-daslu fúria terceiro de magistério fúria ementa teoria três fúria trote de medicina fúria afogados da puc fúria psiquiatras assassinados em semáforos fúria mendigos carbonizados no altar do senhor fúria emiliano zapata fúria beira mar fúria papa doc fúria no sorriso dos voluntários da ong fúria no penteado dos alternativos classe média fúria nas narinas brancas dos porraloucas classe a  é minha fúria crack na veia fúria legalize já é minha fúria maconha-de-grife é minha fúria-glamour-bossa-nova todos contra todos fúria incendiando os ossos dos índios das escadarias do bonfim todos contra todos fúria gang-bang com as filhas dos senhores de respeito todos contra todos fúria apedrejando os desejos ocultos da feira livre fúria jesus fúria nietzsche fúria hobbes é minha fúria é minha fúria não é nada não é nada é minha fúria

3 Comentários
  • Pedro Castilho
    Postado às 22:20h, 15 janeiro Responder

    Existe uma expressão em inglês que não encontra análogo em nossa linguagem, e que acho que se aplica a esta situação… “She totally missed the point.”

  • VERÔNICA MARIA DE SÁ CASTRO
    Postado às 23:27h, 31 maio Responder

    …é fúria que flutua leve por entre…nas…sombras e desatentas palavras…
    palavras amigas de sonhos distantes…solicitações da impossibilidade humana…é fúria que abre os olhos cegos para um cenário frágil…a vida.

    *Amo a palavra e todas as vidas que ela me oferece.Adorei cada imagem do seu poema,em imagem projetada me inspiro.
    Verônica Sá.

Comente