Pra não dizer adeus

Soube da morte do poeta Samuca Santos pelo Facebook. Passou mal e chegou a ser socorrido, mas não aguentou.

Nos últimos meses vez ou outra pensava nele e me perguntava onde estaria. A última vez que nos vimos foi no Pasárgada. Estava passando necessidades e pediu um apoio. Chegou a ser feito um grupo, via internet, para pagar o aluguel e alimentação para ele. Ele se desentendeu com o pessoal, exigindo receber o dinheiro direto. Como tinha problemas com a bebida, todos acharam que não seria prudente entregar a grana direto. Ele disse não ser criança e recusou o apoio.

Quando soube que estava morando na rua, me deu um aperto no coração. Como é possível, ainda hoje, que seres capazes de captar essa luz do mundo ainda possam passar por esse tipo de coisas na Terra? Como ajudá-lo, se ele se afundava cada vez mais no abismo? Mas parece que todos, de alguma forma, estamos desamparados.

Ano passado aprovou um projeto no FIG. Nos organizamos para fazer um lançamento e performance com o filho no evento. Brigou com ele e desistiu, de última hora. Antes, tinha participado do FIP e leu alguns poemas. Finalizou com a leitura de um texto do Ricardo Domeneck, a quem chamou de “poeta do caralho”.

Não sei onde está Samuca agora. Clichê isso de dizer que está com outros poetas de sua geração – muitos com um fim parecido ao dele. Espero que esteja bem, continuando sua jornada. Ficamos por aqui, com suas palavras. Essas sobrevivem em nossas bocas e em nossas cabeças. Sem adeus.

Pra não dizer adeus
Deixo a porta encostada
Entre sem bater
A saudade já fez seu estrago
E não tem mais analgésico
Que faça parar de doer
Mas venha.

Samuca Santos

1 Comentário
  • Jacqueline Andrade
    Postado às 09:03h, 09 junho

    Que triste saber desse irmão com tanta sabedoria e terminar dessa forma.
    Que Deus o tenha.