“Você precisa ler Terêza Tenório”, disse-me a poeta Lucila Nogueira em 2005, quando eu cursava Letras na Universidade Federal de Pernambuco. Lucila estimulava os alunos a ler poetas pernambucanas. Entre as sugeridas naquela disciplina estavam Déborah Brennand, Maria do Carmo Barreto Campello e Terêza Tenório. “É preciso celebrá-las enquanto vivas”, dizia Lucila. Não acredito no termo “literatura pernambucana”, mas creio na importância de ler os vivos.

Antes de sofrer um AVC, a atuação de Terêza não se restringia ao Brasil: publicou em periódicos de Portugal, Espanha, Itália, participava de eventos, fazia sua literatura circular. Tudo isso a doença estagnou. Escrevo este artigo desde meu isolamento, quando é necessário parar para que a vida siga. Até onde chegaria a poesia de Terêza não fosse a fatalidade? Até onde chegaremos quando se preocupam mais com o lucro que com as vidas?

Coube-me, há quinze anos, pesquisar sobre Terêza. Achei Poemaceso (Prêmio APCA,  1986) num sebo. O livro reunia a produção da poeta desde seu O círculo e a pirâmide (1970). Graças à provocação de Lucila, tornei-me admirador e pesquisador da obra de Tenório. Parte de minhas conclusões apresentei em alguns eventos e sintetizei em textos como este aqui.

 

TERÊZA E O MITO

O mito é uma constante em sua poesia, mas para além de uma revisitação dos temas do amor e da morte, a poeta lançava-lhe um olhar contemporâneo, recriava o mito, como no experimental O narguilé do Xamã de Cybelius Manzini, livro dentro do livro O corpo da terra (1994). Sua poesia não se negava a falar de seu tempo, das injustiças, da opressão contra a mulher.

Soube de seu falecimento e pensei logo sobre memória, a que lhe foi desvanecendo com o tempo. Nacionalmente, pensar em memória cultural hoje pode soar nefelibata. No ano passado, nos chocamos com a insensibilidade diante do incêndio do Museu Nacional. Hoje, a morte de milhares não comove. O que pode a poesia contra a barbárie? Pensar na preservação de algo tão intangível como uma obra poética parece alienação. Mas não é.

A poesia nos ajuda a reencontrar o que nos torna humanos. Eles não sabem, mas a poesia é erva que nasce no asfalto. Ou talvez saibam e, por isso, temem. A literatura resiste no diálogo com os leitores: assim sua memória se preserva.

A obra de Tenório está preservada, em parte, graças à edição de sua Poesia reunida (2018) pela Cepe Editora, que vem cumprindo um papel essencial na preservação da memória cultural de Pernambuco. Mas ainda precisamos lê-la. Você precisa ler Terêza Tenório, eu digo.

 

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