Não há nada de pós-moderno com a ruptura dos versos em O peso do medo, 30 poemas em fúria . Não é nisso que reside meu mergulho Nesses dias eu me vi lendo e relendo os poemas, re-escrevendo-os. Acho que o que mais me interessa neles é o paralelismo. Não sei se foi consciente, mas com certeza o paralelismo está ali, naqueles poemas. Whitman usava muito isso, mas é um lance que você vê na literatura medieval, na literatura hebraica.  Os paralelismos de Cabral são desconcertantes, mas não é o que eu busco em OPDM. Eu quero o ritmo do transe, da repetição reverberando no ouvido, voltando e voltado como o leitmotiv do livro: a fúria, o medo. Mais um poema:

ANTICR STO

A Baudelaire

anticr sto devorou sua solidão no pátio lotado diante de suas concubinas debutantes anticr sto chorou pelas vielas não nascidas não há sorrisos que comprem sua paz de gabinete ah não mais a fuligem do dia seguinte não mais o perdão para as mães dos genocidas não mais as flores nos funerais dos inocentes anticr sto sentou-se à direita do pai para pedir clemência para as almas dos burocratas ah o doce cheiro dos corpos incinerados à beira do lago do incesto ah o café da manhã das damas de respeito perturbado pelo sublime gemido das crianças mutiladas ah o lamento de anticr sto abafado pelo intestino dos jasmins que eu plantei no bunker eu diante do espelho que apenas cala um dândi pelos escombros da cidade em chamas

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