Arte Poética (poema)

A gênese desse poema já foi publicada aqui. Na verdade esse poema é a fusão do poema Livro e o poema Arte poética, mas não é nem uma coisa nem outra. Eu notei que o a re-escritura de Livro estava transformando o final do poema como o começo de Arte Poética, de modo que achei melhor fundi-los numa coisa só.

Eu estou ruminando O peso do medo depois da última leitura piloto e das críticas do leitor em questão, que acho que foram bem válidas em sua maioria. Não sei quanto vou mudar ainda este poema, mas acho que sem dúvida vai ser o primeiro do livro. O título Arte poética é bem brega propositalmente, porque tem aquele pedantismo dos poetas que pretendem expor ao mundo sua maneira de perceber a poesia.

No final das contas é isso que quero fazer mesmo, mas com uma gotinha de autoironia. O segundo poema do livro, Wellington de Melo, deixa claro que essa não é uma visão melhor ou pior. É só mais uma, que tende a ser esquecida mesmo, como tudo enfim.

1.ARTE POÉTICA

morto ventre de livros oróboro prateleiras silêncio pó esse livro não é carne e sangue é mais uma máscara que se arrasta já nada há pra dizer esse livro mais medo menos fúria mais fuga de terminar devorador de umbigos ou de seguir cinza ou de ser um dos jovens sérios de fernando  monteiro ou de ser raíz e tumba ou de ser mais uma cria-espelho-neruda ou de ser sensação-roda-de-samba-da-lapa odisseia criar manuais de escombros ser diplomático anêmico diferente iconoclasta moderninho ou ser só isso odisseia ó alcaguetes de plantão oh ser pop cult no café-cinema-de-arte ó poetas pós-românticos pós-simbolistas pós-concretistas pós-modernos pós-thom-yorke oh não ser nada só uma palavra depois da outra uma depois da outra ó maquiadores de dor inventada como estrangular a úlcera de minha letra como multiplicar meu caos-retina como implodir meu corpo rua vazia como incendiar em mim o gabinete como desmembrar a alma dos edifícios mortificados como violar a memória das crianças do caderno cidade como açoitar a agonia das etnias vencidas como retirar o véu do silêncio das bocas dos trens lotados como carbonizar a vontade adormecida das escrivaninhas se sou só isso se isso é só abismo se isso é só farsa odisseia derreter enfim o arquipélago sodomizar as últimas esperanças da plateia enfeitar as vestes da noite com as vísceras de platão

Post-data (05/12/09)

Eis aqui a versão mais recente do poema:

morto ventre de livros oróboro prateleiras silêncio pó esse livro não é carne e sangue é mais uma máscara que se arrasta já nada há pra dizer nada esse livro mais medo menos fúria mais fuga de terminar devorador de umbigos ou de seguir cinza ou de ser um dos jovens sérios de fernando monteiro ou de ser raíz e tumba ou de ser mais uma cria-espelho-neruda ou de ser sensação roda-de-samba da lapa odisseia criar manuais de escombros ser diplomático anêmico diferente iconoclasta moderninho ou ser só isso odisseia ó alcaguetes de plantão oh ser pop cult no café-cinema-de-arte ó poetas pós-românticos pós-simbolistas pós-concretistas pós-modernos  oh não ser nada só uma palavra depois da outra uma depois da outra que o poema sobrevive à morte do verso ó maquiadores de dor inventada como estrangular a úlcera dessas letras como multiplicar meu caos-retina como implodir meu corpo rua vazia como incendiar em mim o gabinete como desmembrar a alma dos edifícios mortificados como violar a úmida memória das crianças do caderno cidade como açoitar a agonia das etnias vencidas como retirar o véu de silêncio das bocas dos trens lotados como carbonizar a vontade adormecida das escrivaninhas se sou só isso se isso é só abismo se isso é só odisseia derreter enfim o arquipélago sodomizar as últimas esperanças da plateia enfeitar as vestes da noite com as vísceras de platão

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