Em resposta a um comentário no Facebook e para fechar a questão, provisoriamente.

Fábio,

Você propõe, em comentário a um post do Facebook que

“façamos um evento de verdade, uma grande discussão, onde possamos apresentar nossos pontos de vista sobre o outro, sobre sua poesia, sobre o que gostamos e o que não gostamos, e mais importante: dizer porque achamos interessante e porque não achamos pertinente.”

Fábio Andrade, pelo Facebook.

Eu lhe digo que não é preciso fazer eventos para isso, Fábio. Basta fazer o que precisa ser feito: escrever crítica literária nas instâncias tradicionais impressas ou mesmo através da internet, por meio de sites literários sérios como o da Crispim ou o NotaPE, que vêm despontando nos últimos meses. A não ser que crítica literária se faça agora pelo Facebook e eu esteja defasado. Vale, até, usar blogs pessoais para isso, veja só. Você tem um trabalho sólido nesse sentido e deveria continuar com ele, como no número da Continente Documento sobre poesia contemporânea e a sua tese, naturalmente. Não vejo entre os jovens uma autoridade maior para falar de poesia contemporânea no estado. Não há ironia em minha fala, estou dizendo de todo o coração. Utilize-a como deve ser utilizada.

Quando você fala ‘eventos de verdade’, fica claro seu desprezo à FreePorto. Mas não sei se estava na mesa sobre poesia homoerótica do sábado, nem na conversa sobre a poesia de Everardo Norões, nem no contraste entre as poéticas de Nicolas Behr e Bruna Beber (talvez essa sim, né?) mediadas pela Renata Pimentel, nem na mesa em que colocamos uma pessoa comum, um leitor, que leu “O púcaro búlgaro” para conversar com Mario Prata e Marcelino Freire sobre a obra e que foi, apesar da clara timidez do leitor, diante dos ‘monstros literários’, um dos momentos mais lindos da FreePorto. Não sei se estava em cada um desses momentos para entender se houve ou não discussões sérias, que não precisam estar rodeadas por um ar academicista. Porque a literatura acontece na vida e não exclusivamente na academia. A literatura precisa pulsar em cada parte de sua vida, inclusive no quarto de meu filho, quando velo seu silêncio.

Essa postura do “não vi e não gostei” é complicada. Mas não é preciso explicar nada, porque o simbolismo da FreePorto talvez só seja entendido depois. Não é conversa para agora. Mas, adianto o que falei lá na FreePorto, para todo mundo ouvir:

“quem quer conhecer escritores não vai para ‘festas literárias’, lê seus livros”.

Dá para entender o sentido da desconstrução da FreePorto agora? Não, né? Eu vi Cristhiano Aguiar na FreePorto, li seus comentários sobre a festa em seu blog e respeito totalmente o que disse, concordando com a maioria das coisas que falou. Afinal, é a visão de um crítico que esteve no lugar e se posicionou claramente, explicitando seus pontos de vista e afirmando categoricamente o que funcionou ou não para ele. Essa é a postura que respeito e defendo, sempre.

Em uma das intervenções pelo Facebook, a professora Jacineide Travassos teceu críticas sobre a apresentação do Urros no A letra e a Voz, “Terrorismo Semiótico”, que aconteceu na Rua da Moeda. Disse ela:

“Fiquei consternada quando fui ao Festival de Literatura Recifense e em lugar da Literatura encontrei um senhor com um pano envolvendo o rosto e a cabeça, dramatizando o papel de um “terrorista semiótico”.Todos riam, você (Johnny Martins) estava ao meu lado e sabe que Literatura não é circo. Só tenho a lamentar!!!”

Jacineide Travassos, em post do Facebook.

Esse é outro caso, de uma pessoa que viu e não entendeu nada. Ela deve ter ficado tão ‘consternada’ que nem sequer prestou atenção que o texto que o senhor leu (esse senhor sou eu, claro) foi um trecho de Literatura e Sociedade, de Antonio Candido. O techo em questão era “A posição do artista”, página 34, em que se discutem, como você deve saber, a posição do artista na sociedade, sua inserção e legitimação, os conceitos de arte coletiva, Volksgeist etc.  Não deve ter prestado atenção, também, no trecho final deste texto, que foi inserido por mim e que ela, talvez, tivesse creditado a Candido (?). Eis o princípio do terrorismo semiótico: o factoide acadêmico como uma forma de desestabilizar o olhar acomodado, a pachorra, a repetição pura e simples de um discurso pela manutenção de realidades confortáveis nesse nosso mundo ‘pós-moderno’, tão fragmentário, que você tanto critica. Mas, enfim, o  trecho que ‘inseri’ foi:

4 Comentários
  • Luz
    Postado às 19:05h, 14 janeiro Responder

    Oi Wellington, você não me conhece, mas frequentei o Laboratório (um excelente projeto por sinal!Parabéns!) e também a freeporto. Sou apenas um aluna do curso de letras,mas uma amante da literatura e acredito que meu comentário seja válido. A freeporto deixou algumas coisas a desejar,mas não sou eu quem vai dizer o que estava certo ou errado,até porque não faço esse “gênero não vi,não gostei”,só acho que certas críticas (como as que foram citadas nessa carta a Fábio) devem ser aceitas com maturidade, coisa que eu não vi. Me perdoe se estou sendo petulante. Sou jovem(22 anos) e também acho que a literatura não deve feder a mofo,mas não é qualquer coisa que é literatura(falo isso de ALGUMAS apresentações que vi no sábado, é delas que falo pois foi as que vi). Talvez se a freeporto ao invés de festa literária fosse uma festa cultural,certas apresentações fossem cabíveis e ai algumas críticas não incomodassem tanto. Sinceramente achei de um tom muito infantil essa sua carta, e realmente me surpreendi com sua atitude, não espereva isso. Espero que não crie inimizades, é apenas um comentário de quem não faz parte do meio, apenas ama literatura e está vendo as coisas “de fora”.

    • Wellington de Melo
      Postado às 07:13h, 15 janeiro

      Olá, Wanessa.
      Que bom que participou do Laboratório. Este ano teremos a segunda temporada. Na próxima semana a primeira temporada passa a ser exibida na TV Pernambuco.
      Sobre as cartas, infelizmente você não vai poder ter a dimensão de toda a discussão, pois pois as duas pessoas que teceram as ‘críticas’ apagaram deliberadamente seus perfis para que não se visse o ‘tom’ deles. Se achou o meu infantil, se surpreenderia com o que encontraria ali.
      De qualquer forma, nós, que tentamos realizar qualquer evento, não pelo dinheiro, porque não ganhamos um centavo com a FreePorto, sempre estamos sujeitos à crítica e isso é muito normal. E não se preocupe com isso de idade: não é a idade que diz quem é capaz ou não de realizar as coisas, muito menos um título universitário.
      Espero que continue participando desses eventos, mas não se esqueça: eles não são literatura e, toda a crítica que se faz a eles não pode obscurecer a produção de quem está envolvido neles. Toda crítica literária se faz a partir dos textos. Minha carta era nesse sentido: para que as críticas voltassem ao texto e não à ‘vida literária’.
      Abração e volte sempre.

  • Wellington de Melo
    Postado às 14:54h, 05 janeiro Responder

    Vi seu comentário no blog do Café Colombo e respondi por lá também. Bom esclarecimento. Acho que por esse caminho vamos bem. Remeterei o livro em breve. Abraço!

  • Eduardo Cesar Maia
    Postado às 16:46h, 04 janeiro Responder

    Opa, Wellington,

    Como vai?

    Terei o maior prazer e interesse em ler seu livro.
    Respondi teu comentário lá no blog do Café…

    Meu endereço é:
    Plaza Ribadeo, Nº4, 5º1
    CEP: 28029
    Madrid – España

Comente