Poema do livro O peso do medo, 30 poemas em fúria .

um último poema
mas te elevas com  um lagarto aceso
com uma verdade de sete estrelas plantada na boca
com um não incinerado na língua

um último poema
num varal de esperanças apodrecidas
mas tu me rasgas a pálpebra com filetes de madressilvas
me presenteias um espelho oco
um terno mofado
larvas de poetas abortados

só queria um último poema
mas último poema não há
porque um último poema
é como encaixotar palavras em dez livros
porque não há poema que caiba
não há poema

eu tentei destruir o verso e o peso do medo
mas não acaba
eu tentei mastigar a carne da poesia
mas não acaba
barr to c mpello não acaba dr  mmond não acaba bl  ke não acaba y rke não acaba b  ndeira não
art  r rog rio não acaba p  ssoa
não acaba
porque é muita carne pra pouca boca

não acaba porque desliza como aquele lagarto aceso
como o olhar de l rca
aquele olhar de l rca
antes do fuzilamento
como a pupila de l rca
soterrada pela areia quente de granada

como a presa do cão andaluz
mordendo o derradeiro olho de l rca
mas l rca não cabe na boca do cão
não
não acaba fed rico  numa vala anônima
fed rico sorrindo do meu último poema e de teu último livro
porque ele sabe
não cabe
não acaba

mesmo
que a tua letra seja língua
e a minha olho
a tua letra seja riso
e a minha náusea
não acaba
não cabe em nenhuma parte

porque a pupila de aleph
na minha pupila
refletida
carbonizou todos meus poemas
retalhou toda a carne da poesia
dinamitou a solidão do blog esquecido de rodr go de souza leão

esse reflexo
vale mais que o medo
vale mais que a fúria
porque
poesia não é nada

porque
em recife ou salamanca
em são paulo ou barreiros
um olhar feio
um trejeito
um tiro certeiro
uma estocada
depois disso
nada
porque no final
a conta
tem que ser paga
porque de nós
só restarão mornas tardes
em seminários inúteis
com meninas menstruadas
e esses livros
de ventre
morto

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