BOOKTUBER

Em agosto, o jornalista e escritor Ronaldo Bressane vazou a tabela de preços de uma booktuber para divulgar livros em seu canal. A “desinibição comercial” da booktuber incomodou alguns autores e parte da crítica. Nas redes, revolta ou solidariedade, deboche ou resignação.

Então vieram as perguntas: não é contraditório promover alguns livros mediante pagamento,  enquanto se resenha outros de forma “isenta”? O booktuber falaria mal de um livro pelo qual recebeu recursos do autor ou da editora? Seria o fim da crítica militante? Os influenciadores digitais inventaram o jabá? A prática ludibriaria os leitores? Se sim, que tipo de leitor segue esses influenciadores? Uma última: os leitores deste Pernambuco seriam enrolados por um publi disfarçado de resenha?

BOOKTUBER 2

ELES CAUSAM DESCONFORTO?

Vergonha e moralismo andam juntos. Parece que a “impostura booktuber” parece ter despertado a primeira no meio literário, pela ascensão de um modelo transmedia despudorado, que expõe uma prática até então velada. Daí o desejo pelo segundo: o necessário limite entre crítica e publicidade, jornalismo e marketing. Preocupação legítima, mas sempre houve uma névoa em certos segmentos.

CRÍTICA

PELA READEQUAÇÃO DE PAPÉIS

É ilegítimo o autor enviar o livro a um crítico amigo, de quem não espera uma resenha negativa? E evitar os críticos hostis? Será que relações medidas por troca de prestígio, influência ou convites a eventos são mais legítimas que as baseadas em remuneração pecuniária? “Não misture as coisas!” Digo de outra forma: sempre houve críticos e críticos, autores e autores, editoras e editoras.

Agora, talvez haja booktubers e booktubers, que não são críticos stricto sensu, que têm um papel distinto e, sim, ainda nebuloso, na nova dinâmica do mercado. Por outro lado, resenhas pagas me parecem um instrumento pobre de marketing, e deprimente para autores. Mas e se não chamamos de resenha, vale? Em tempo: a booktuber Tatiana Feltrin divulgou sua tabela de preços em seu site. Nada de névoa.

Texto publicado originalmente na coluna Mercado Editorial, do Suplemento Pernambuco, setembro de 2018.

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