Para que um personagem alcance o papel de protagonista de um romance é preciso que ele supere muitos obstáculos. Não basta o desejo do autor de que ele ocupe este lugar, ele precisa ser conquistado. Pode soar estranho: considero o autor um tipo de padrinho para este primeiro personagem que surge pretendendo ser a estrela, mas não não somos nós quem decidimos se ele terá o emprego. A verdade é que personagens parecem lutar por essa vaga como atores competem por um papel. Personagens realmente têm o poder de decidir seu próprio destino (falei sobre isso nesta postagem), mas há outras questões.

Há muitas histórias dentro de um romance e nem sempre aquela que você selecionou para contar é a mais promissora. Outras vezes, uma mesma história muda completamente segundo o narrador, e isso é determinante na escolha. Se esse narrador também é o protagonista – raras vezes não é – duplica-se a responsabilidade. Dom Casmurro é superior a O primo Basílio e a Madame Bovary, entre outras coisas, pela genialidade de Machado em escolher esse narrador protagonista totalmente parcial que torna a história muito mais intrigante e aberta. Não sei se Bentinho sempre foi, em versões anteriores do romance, o narrador-protagonista, mas isso rende uma boa conversa. Aqui estamos tratando de um resultado, mas queria falar do processo de escolha de um protagonista.

Protagonista de Emilio

A protagonista de meu novo romance, Emilio, chama-se Cláudia. Para chegar a esse lugar, ela precisou desbancar, pelas minhas contas, pelo menos três personagens desde a primeira versão do romance. Na versão atual, esses personagens que perderam a briga ocupam papéis diferentes dos que tiveram em outras versões, como acontece quando num filme um coadjuvante rouba a cena. 

A diferença é que, neste caso, à medida que ia escrevendo, percebia que determinado personagem não daria conta de narrar ou que não era aquela a história que eu queria contar. O que fazer? Eu agradecia ao personagem o esforço naquelas páginas e o dispensava sem aviso prévio. Fantasio que durante a escrita de um romance se cria uma legião de desafetos ficcionais, composta de personagens que perderam a chance de ter uma voz.

Em determinado momento, já havia descoberto que a voz deste romance seria uma personagem feminina, mas aquela que desempenhava o papel de minha estrela não dava conta (não vou dizer agora quem era, deixo para outro momento). Não via nela a motivação de uma protagonista, não conseguia passar pela quebra-mar (já falei sobre isso em outro post). Foi quando olhei pro lado e vi Cláudia: era ela quem devia contar a história, ela daria conta, pensei. 

A provação de Cláudia

Comecei então a reescrever tudo sob sua ótica e finalmente o romance avançou, finalmente venci as 30 páginas iniciais, depois as 100 e a essa altura Cláudia já estava confortável em seu lugar de protagonista. Mais: ela era a narradora em alguma versão, testei uma terceira pessoa parcial, mas Cláudia disse: “Não, senhor, eu que conto”. Eu já não era padrinho de ninguém, ela conseguiu a posição por seu mérito, restava-me me render a sua voz. Ela venceu o primeiro round, mas agora vem a parte mais difícil: Cláudia precisará convencer os leitores e leitoras de que existe, de que não é uma farsa. Vamos ver como se sai.

Se você ficou curioso ou curiosa para saber mais sobre meu romance Emilio, tenho uma novidade: criei um grupo exclusivo de leitores especias, que receberão novidades sobre o livro antes de todos e que me ajudará na divulgação do livro. Será um grupo pequeno, pois quero dar atenção a todos. Se quiser fazer parte, envie uma mensagem que vou incluir você neste grupo.

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4 Comentários
  • Pingback:Coadjuvantes - Wellington de Melo | escritor
    Postado às 18:38h, 08 setembro Responder

    […] Na postagem anterior eu falei como Cláudia protagonista de Emilio,  meu novo romance que sai este semestre, ganhou espaço e desbancou outros personagens para ter direito de contar a história. Mas isso não significa que sua jornada e a única nem a mais importante do romance. Coadjuvantes têm também suas próprias jornadas, seus arcos narrativos, que muitas vezes são obscurecidos ao longo do processo de escrita.  […]

  • Wellington de Melo
    Postado às 20:39h, 03 setembro Responder

    Grato, querido. Vamos ver se ela resiste.

  • Marcos Martin
    Postado às 18:12h, 27 agosto Responder

    Que Cláudia viva!

  • Marcos Martin
    Postado às 18:11h, 27 agosto Responder

    Continuemos a desbravas as entrelinhas de Emilio. Sigamos.

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